sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O Principezinho e a Raposa (parte 2)

"- Parece-me que estou a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor... tenho a impressão que ela me cativou...
- É bem possível - disse a raposa. - Vê-se a cada coisa cá na Terra...
- Oh! Mas não é na Terra! - disse o principezinho.
A raposa pareceu muito intrigada.
- Então, é noutro planeta?
- É.
- E nesse planeta há caçadores?
- Não.
- Começo a achar-lhe alguma graça... E galinhas?
-Não.
- Não há bela sem senão... - suspirou a raposa.
Mas voltou a insistir na mesma ideia:
-Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. As galinhas são todas parecidas umas com as outras e os homens são todos parecidos uns com os outros. Por isso, às vezes, aborreço-me muito. Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus passos hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo ali adiante? Eu não gosto de pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando tu me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do som do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo.
- Se fazes favor... Cativa-me! - acabou finalmente por pedir."

in, O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry

Um comentário:

Jokinh@ disse...

Quem cativa e se deixa cativar... revê o seu cativo no quotidiano...
Tudo o fará lembrar aquele que me tem cativo...